A saúde óssea de uma mulher, em qualquer etapa do seu ciclo de vida, é o resultado da interação entre fatores modificáveis (associados às escolhas de vida) e determinantes não modificáveis (como influências biológicas e ambientais). Aspetos como a dinâmica familiar durante a infância, níveis de atividade física, hábitos alimentares ou até a exposição a agentes poluentes ambientais, podem influenciar significativamente a saúde do sistema esquelético.
Embora o passado não possa ser alterado, a compreensão dos efeitos cumulativos destes fatores ao longo do tempo é essencial para a formulação de estratégias preventivas e de promoção da saúde óssea.
Saúde óssea
A saúde óssea é fundamental para o bem-estar geral, estando diretamente relacionada com a qualidade de vida, equilíbrio do metabolismo cardiovascular e até com a função cerebral. O osso é um órgão complexo que desempenha várias funções essenciais no organismo, incluindo a regulação do equilíbrio de minerais no sangue, o controlo dos níveis de glicose, influência no humor e na capacidade cognitiva, além de ser crucial para a força e a mobilidade1.
Adicionalmente, os nossos ossos produzem ainda uma hormona chamada osteocalcina , que contribui para a regulação da glicose no sangue e para o bom funcionamento do cérebro2. O tecido ósseo é dinâmico e está em constante renovação, num processo chamado remodelação óssea, que envolve a substituição do osso antigo por osso novo, de forma a manter o esqueleto forte e saudável ao longo da vida.
Saúde óssea na Mulher
Com o início da menopausa, ocorre uma perda significativa da mineralização óssea, resultando numa maior fragilidade esquelética e no aumento da suscetibilidade a fraturas. Dados indicam que aproximadamente 80% das fraturas ocorrem em mulheres, e 40% delas sofrem pelo menos uma fratura associada à fragilidade óssea3,4.
A redução da densidade mineral óssea na mulher pode ser abrupta e ocorrer precocemente, em alguns casos mesmo antes da última menstruação e do início da menopausa - este processo está diretamente associado à redução da síntese de estrogénio e progesterona (hormonas fundamentais na manutenção da integridade óssea).
O papel da Nutrição
A adotação de hábitos alimentares equilibrados, gestão do stress, qualidade de sono e a prática de atividade física desde a infância, são fatores fundamentais para o desenvolvimento de um sistema musculoesquelético saudável. Uma alimentação variada, composta por proteínas de elevada qualidade, leguminosas, cereais integrais, frutos secos, frutas e hortícolas - com especial destaque para os vegetais de folha verde-escura, ricos em cálcio - asseguram o aporte adequado de minerais, vitaminas e polifenóis essenciais para a saúde óssea.
Caso se verifique algum défice nutricional poderá ser necessário recorrer a suplementos alimentares. Consulte um profissional de saúde antes de iniciar qualquer regime de suplementação, de modo a assegurar que os produtos escolhidos são adequados às suas necessidades individuais.
Dúvidas frequentes:
Existem formas de prolongar a atividade dos ovários?
Dra. Gersh: Todas as mulheres irão passar pela menopausa, embora as variações genéticas e hormonais possam influenciar o processo. Tal como referido anteriormente, a adoção de uma alimentação variada e equilibrada, a redução da exposição a substâncias químicas/poluentes prejudiciais, a prática regular de exercício físico e o controlo do stress podem contribuir para apoiar a saúde dos ovários durante esta fase.
Quais as condições de saúde que podem contribuir para a fragilidade óssea durante a idade reprodutiva?
Dra. Gersh: Problemas gastrointestinais que afetam a digestão e a absorção de nutrientes podem ter impacto na saúde óssea. Certos fármacos, incluindo antidepressivos, inibidores da acidez gástrica e anticoagulantes, podem ter um impacto negativo na densidade óssea, pelo que é essencial o acompanhamento médico. O controlo da inflamação sistémica, a manutenção de um sistema imunitário funcional e a adoção de um peso corporal adequado são fundamentais para a otimização e preservação da saúde óssea.
De que forma o stress pode impactar a saúde óssea?
Dra. Gersh: O stress pode ter um impacto negativo no metabolismo ósseo através de vários mecanismos, incluindo na disfunção do processo digestivo, que resulta numa absorção inadequada de micronutrientes essenciais. Além disso, compromete a qualidade do sono, um período fundamental para o crescimento e a regeneração celular. A resposta fisiológica ao stress estimula a libertação de cortisol pelas glândulas suprarrenais, uma hormona catabólica que promove a degradação dos tecidos, podendo reduzir a formação óssea e aumentar a perda de massa óssea.
A Dra. Felice Gersh é médica com dupla certificação em Ginecologia e Obstetrícia e Medicina Integrativa. Formou-se na Princeton University, University of Southern California School of Medicine e na University of Arizona School of Medicine. É fundadora e diretora do Integrative Medical Group of Irvine e durante muitos anos, lecionou obstetrícia e ginecologia na Keck USC School of Medicine como Professora Clínica Assistente. Atualmente, é membro do programa de Especialização em Medicina Integrativa da University of Arizona School of Medicine.
A Dra. Gersh é igualmente escritora e palestrante, reconhecida internacionalmente na área da saúde da mulher, com vários artigos científicos publicados em revistas médicas. Participou em documentários médicos, incluindo o The Real Skinny on Fat, Fasting e The Business of Birth Control. É também autora bestseller das séries PCOS SOS e Menopause: 50 Things You Need to Know.
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1. Zhou et al. Endocrine role of bone in the regulation of energy metabolism. Bone Research. 2021;1:25.
2. Florencio-Silva et al. Biology of Bone Tissue: Structure, Function, and Factors That Influence Bone Cells. Biomed Res Int. 2015:421746.
3. Sozen et al. An overview and management of osteoporosis. Eur J Rheumatol. 2017;4(1):46-56.
4. National Osteoporosis Foundation data
